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Contos de Azrael – relatos com Padre Gonzales 1

Masmorra

Florença, 25 de maio de 1477

Caro Arcebispo,

Gostaria de relatar um acontecimento recente. Estava saindo de uma taberna após uma noite agitada a base de vinho. Mas, sei que eu estava nas minhas perfeitas capacidades mentais e sei o que vi, ou melhor dizendo, presenciei.
Estava voltando para a casa, quando começou uma forte ventania. Uma ventania destas é presságio de uma tempestade. Sabia que correr para casa, não me faria chegar a tempo, então achei um lugar onde poderia me proteger da chuva. Um aqueduto, ou uma ponte, não lembro ao certo, mas era perto de um rio. A chuva caiu, e de fato era uma tempestade, mas nem de perto a tempestade que esperava com aquele vento que havia presenciado. Esperei por um tempo. A chuva parecia que ia demorar, e comecei a cogitar a hipótese de me aventurar em meio ao aguaceiro que despencava dos céus. Meus pensamentos foram interrompidos pelos rosnados de um animal. Devia ser de algum cachorro, de um tipo selvagem, ou pelo menos um destes cachorros que se deve temer. Não conseguia perceber de onde vinha exatamente, mas era de longe. Isso me animou ainda mais de arriscar voltar para a casa debaixo da chuva. As tochas haviam se apagado, não sei o que faria caso eles se aproximassem. Logo notei uma porta que aparentava levar para algum tipo de calabouço. Estava escuro lá dentro, e por algumas vezes parecia que os rosnados vinham de lá, em outros momentos não. Mas, acho que nossos sentidos não dariam a localização exata, não é mesmo? Quando ouvi gritos de pessoas, a situação mudou. Agora fiquei preocupado, tive medo até de gritar pela pessoa e os cachorros responderem antes que elas. Mesmo dentro do calabouço não tinha nenhuma tocha à primeira vista. Ainda assim, comecei a descer, e deu para perceber que o corredor era um pouco estreito, ao ponto deu nem conseguir esticar as mãos. Pensei em começar a chamar pelas pessoas que mais cedo ouvira gritar. Mas, a quem eu quero enganar: não chamei ninguém! Perguntava tão baixo, porque não queria que alguém ouvisse minha voz além de mim. Ao descer, consegui ver uma luz na esquina de um corredor mais à frente. Então posso arriscar, afinal, era uma tocha. Pude ver que o local era feito de longos corredores escuros e estreitos, vez ou outra podia dar em algum tipo de sala, ou celas, seria um lugar perfeito para uma masmorra. Fui rezando e pedindo muito o apoio do Espírito Santo. Quase escorreguei, e somente percebi que tinha sido em uma poça de sangue, tempos depois. No ato, achei que devia ser somente por causa de algum limo ou até mesmo dá água da chuva que conseguia infiltrar até nas profundezas de onde estava. Ao chegar à tocha, ganhei foças para gritar e ver se alguém respondia, enquanto rezava para que nenhum cachorro respondesse. Ou para que a tocha não apagasse. No caminho, consegui um pedaço de madeira, daria para usar como arma para espantar os cachorros, isso me deu mais coragem. Fui seguindo e… ¹

Mais à frente no túnel, tinha uma sala maior, os rosnados ficavam maiores, mas nunca muito próximos. Queria achar logo as pessoas e ver se elas estavam bem, mas não queria ver os cachorros. Ainda mais que, como eu disse, os sons que os animais emitiam, pareciam uma união de rosnado com rugidos de leões. Ainda achava que era só impressão minha, e que seriam apenas cachorros. Então vi algo horripilante. Pedaços de corpos jogados em toda a parte, braço para lá, perna para cá. Muito sangue, tripas no chão. Não consigo pensar em um ato de um animal. Já vi cachorros comendo coelhos, eles não espalham a sua presa desta forma, nem parecia que tentaram comer as pessoas, mas apenas as dilacerarem. Até que vi um sobrevivente. Gostaria de saber o que aconteceu lá, ao mesmo passo que só queria fugir dali o mais rápido possível. A pessoa (até hoje não sei o nome), estava fora de si, não devia saber onde estava, o que fazia lá, na verdade, não sabe quem é até hoje e, não falou nenhuma palavra. Ficou apenas olhando fixamente para frente como quem não quer ver algo mesmo não podendo deixar de ver. Consegui carregá-la nos meus ombros, e fomos saindo. Então que a situação piorou, já que os rosnados, ou rugidos, agora pareciam que vinham de fora, da porta. Mas, era a única saída que eu conhecia. Então juntamos as nossas forças e fomos. Constantemente com a sensação de está sendo observado, tentei listar na cabeça todas as portas e corredores que havia visto para vim. Não era um labirinto, mas isso não me pareceu relevante, não tinha o luxo de me perder. Portas para salas que me pareciam estar ocupadas, mas as poucas que vi, estavam vazias, então não procurei mais, só queria fugir. Na saída, ao ver a escada e a porta, começando a sentir aquele alívio, vi uma figura, cabelos, dourados, prateados ou azul; não me lembro, mas estava me observando, e não sei se me observou apenas naquele momento. Tinha uma aura em volta. Não consegui notar como se vestia, estava no escuro. Então, paralisei. Quando vi, um soldado me acudia pela manhã. Até hoje tenho medo de passar por aquele lugar de novo.

1 – Esta parte da carta parece está danificada

desenho do símbolo na parede feita pelo autor da carta
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