J.M. DeMatteis e Mike Zeck tinham a intenção de fazer uma história onde o herói morreria e depois retornaria, e essa é a “Última caçada de Kraven”. Ele tentou com alguns personagens na Marvel e na DC, incluindo o personagem Magnum (Marvel). No fim acabou indo para o amigão da vizinhança, o Homem Aranha.
Uma HQ bem desenhada, com sua composição feita de forma a dar ênfase à narrativa, com bastante quadros em acontecimentos mais específicos. Seja em malabarismos do Homem Aranha, em uma mulher sendo arrastada pra um bueiro que dura 1 página inteira, ou o foco em um rosto tirando a máscara; de forma a dar maior dramaticidade e destacar o suspense.
Uma narrativa que vai sendo construída aos poucos. Momentos inclusive que, exploram os pensamentos dos personagens aprofundando suas personalidades.
Cores muito bem escolhidas de acordo com o tipo de personagem ou ambiente. Podemos destacar, por exemplo as cores dos pensamentos de alguns personagens: Mary Jane são rosa, porque é uma mulher; Kraven é laranja, cor de sua vestimenta; o Rattus é verde, cor predominante dos esgotos, local onde ele reside; e Homem Aranha é amarelo. Uma HQ sombria, com a arte final não muita escura, inclusive, suave em muitos momentos.
Têm bastante quadros com foco nas expressões do Kraven. E por falar nele, essa não é uma história sobre o Homem Aranha, mas sobre o Sergei Kraven. Embora tenhamos quatro personagens que possuem os holofotes nesta HQ, o que mais se destaca é o Sergei. Possui uma personalidade lunática e destemida: além de ser um caçador implacável, ele quer conhecer o seu alvo, sentir na pele o que sua presa sente e consequentemente, supera-la.
Kraven tem seus poderes ampliados através de coquetéis de ervas, mas que em dados momentos, o leva a ter alucinações. Momentos um pouco psicodélicos onde o Caçador enfrenta o próprio medo e limites, e que as vezes, acontece com o Homem Aranha também. Durante o enredo é deixado claro que o inimigo de Kraven não é o Homem Aranha, já que o acaba reconhecendo como um bom homem, algo que nunca havia notado antes. Sergei o vê apenas como uma peça de um problema maior, como ele mesmo diz mais ao final.
E que problema seria esse? Essa é uma boa pergunta, uma boa reflexão. Seria a própria natureza humana? O homem, e sua natureza destrutiva? Já dizia o Agente Smith em Matrix,
“Vocês são como vírus. Chegam em um lugar, se estabelecem, crescem, tomam todos os recursos naturais do lugar e por fim, os destrói”.
Poderia ser a sociedade? A mesma corrompe o homem. Por vezes, Kraven fala de sua família que teve de fugir da Rússia, que ao que parece, devia ser a URSS na época. Mas, que os EUA não foi muito melhor com eles todos. E Rattus nessa história toda? É o instinto animal, o homem que voltou a ser animal e age guiado pelos seus instintos. Tem também o fato de supera-lo, seria também superar o Homem Aranha, que no passado teve que recorrer à ajuda do Capitão América.
O que observamos ao final desta leitura, é a superação dos instintos, ou talvez, o próprio controle sobre nosso instinto animal. E esse controle trás a Sergei Kraven, a sua rendição e a, por conseguinte, sua paz.