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A Origem do Preconceito com os Quadrinhos

Quadrinhos, durante um bom tempo foi considerado infantil ou literatura inferior. Mas por que?

Quadrinhos também conhecida como Narrativa Figurada. Se trata do meio mais primitivo de comunicação. Desde as pinturas rupestres das cavernas. Em suma  pode-se dizer que é a origem das histórias em quadrinhos. Pois a narrativa era através da imagem. E era assim que nossos ancestrais costumavam expressar rituais de caça nas paredes.

Pode-se dizer de que a imagem influencia principalmente as crianças. Pois é nesta fase da sua vida que o indivíduo está mais apto a assimilar as informações provenientes de todos os meios. Isso seja qual for a sua natureza. A criança, ao efetuar as primeiras comunicações ou associações, revela a chegada da função simbólica. Porque a criança enquanto não domina a linguagem verbal pensa através da associação de imagens a símbolos ou sinais que ela própria cria. Até os 6 anos a criança tem uma capacidade de concentração por certo bem reduzida. A partir dos seis anos a criança tem a “febre da imagem”. Pois ela pode permanecer horas olhando fixamente o écran, não realizando qualquer outra atividade. Isso pode provocar a sua envolvência no imaginário.

Por esse motivo os quadrinhos são sucesso entre as crianças.

No entanto, é difícil dizer onde surgiu o preconceito com os quadrinhos. De início, criada através de tiras dominicais dos jornais, com temas sócio-culturais e políticos. Foi responsável pela criação do termo “Jornalismo amarelo” devido a criação do The Yellow Kid por Richard Fenton Outcault, no Brasil conhecido como Imprensa Marrom. Conhecida por ser sensacionalista e manipuladora, inclusive retratada no filme “Cidadão Kane”. Os “livros” só começaram a surgir depois, reunindo acervo de varias tirinhas de um dado personagem. Foi com a crise de 1929, que abalou todo o mundo, que surgiram as historias de aventura, ficção, terror e um dos gêneros mais famosos, o do super-heroi. Em 1939, quando surgiu Batman, suas historias eram mais violentas. Assim os produtores pediram que suavizassem. E assim surgiu o Robin.

Nas décadas de 50 e 80, os quadrinhos eram ainda muito populares. Contudo, se você fosse pego lendo um livro às escondidas no meio de uma aula, provavelmente só levaria uma bronca da professora. Mas, se fosse pego lendo uma história em quadrinhos, além da bronca, a revista seria tomada e até rasgada. Em seguida indo parar no lixo na frente de todo o resto da sala.

Até há alguns anos, a escola, definitivamente, não era lugar seguro para um gibi.

Em casa, também não era muito diferente. Tem uma das “histórias de terror” bem comum entre leitores de quadrinhos do passado. Logo que chegasse em casa após a escola,  descobria que a mãe jogara fora toda a sua coleção de “revistinhas”. Provavelmente em alguma faxina geral da casa. Certamente, para essas mães, aquelas pilhas de papel colorido não tinham valor algum. Ou seja, apenas tomavam espaço desnecessário no quarto do filho. Na verdade, já que muitas delas haviam passado uma infância sem muitos luxos, provavelmente não conseguiam entender. isto é, por qual razão  gastar dinheiro com historinhas do Superman, Hulk ou Turma da Mônica?

Pra que ficar gastando dinheiro com papel?.

Talvez o preconceito seja com a infância em geral. Pois é dito que tudo o que é infantil, é bobo. Ou as vezes pode ser a ficção. Pois muitas foram as vezes que uma historia realista seria o ideal ao falar de um filme. Ao passo que todos os personagem tivessem que ser humanos, e se passar em algum lugar conhecido na Terra. Como se caso contrário, a história é fraca e sem graça. Mesmo quando há casos em que um filme fingindo ser baseado em fatos reais, acaba sendo bem caricato e nada realista.

Entretanto, leitura de imagem não é simples como muitas vezes parecem ser. E a leitura de quadrinho também não. Quadrinhos é uma união de narrativa visual/pictórica e narrativa de texto. Não basta ler o texto, tem que saber interpretar a imagem. Por exemplo, não há necessidade de descrever um cenário. Posto que cabe ao desenhista desenhar o cenário de forma que se perceba como é. A fim que transmita a sensação dos personagens ao está naquele lugar ao leitor.

Na década de 50, Frederic Wertham, um psiquiatra alemão,  criou o livro “Sedução dos Inocentes”. Lá ele afirmava que quadrinhos transformavam as crianças em delinquentes e retardava a sua capacidade de aprendizagem:

“Algumas dessas publicações poderão ser gatilhos que farão explodir atos anti-sociais. Outras, sugerindo atos criminosos específicos, serão o pedaço de quebra cabeças que faltava para completar a estrutura que se vinha formando. Algumas poderão até constituir o estimulante que levará à prisão perpetua ou à condenação à morte por um crime. A comissão da legislatura de Nova York, depois de cinco anos de estudo dessas publicações e do crime, citou muitos casos clínicos específicos em que a origem de um crime cometido ligava de maneira inconfundível ao fato de o criminoso ter lido um livro ou assistido a um programa de crime. Está nas mãos de cada pai modificar êsse ambiente de cólera e violência, de depravação e de morte. Digo a êsses traficantes de livros torpes (os quadrinhos), a todos os vendedores de violência e de crime: “Em minha casa não entrarão enquanto eu nela mandar.” Se alguns milhões de pessoas adotarem a mesma orientação, os traficantes de torpezas desaparecerão e com eles desaparecerá o convite ao crime.”
“Todo pré-adolescente tem um período que despreza as meninas. Algumas revistas em quadrinhos fixam essa atitude e ainda criam a idéia de que garotas só servem para apanhar ou seduzir. É sugerida uma atitude homoerótica da forma que a masculinidade é apresentada. As mulheres sempre são bruxas ou violentas. As mulheres sempre são desenhadas num tom pouco erótico. Já os heróis sempre estão em tons agressivamente eróticos. O musculoso super-tipo é enfatizado com o objetivo de criar estímulo e curiosidade sexual no leitor.”

Certamente, os padrões morais de hoje são bem diferentes dos da época. Assim como a abordagem do sexo e do casamento nos quadrinhos. Batman acabou absorvendo todo o impacto da polêmica, já que foi o primeiro atacado. Então, algum tempo depois já era taxado de forma absolutamente preconceituosa e errônea de gay. Como o próprio Wertham explica:

“Algumas vezes, Batman está de cama por causa de algum ferimento. Robin aparece sentado ao seu lado. Eles levam uma vida idílica. São Bruce Wayne e Dick Grayson. Bruce é descrito como milionário bon vivant e Dick como seu pupilo. Eles moram numa mansão suntuosa com lindas flores em vasos enormes. Têm um mordomo, Alfred. Batman aparece algumas vezes de roupão. Parece um paraíso, um sonho de consumo de dois homossexuais que vivem juntos. Às vezes aparecem num sofá. Bruce reclinado e Dick ao seu lado sem paletó e de camisa aberta.”

Wertham faz suposições homossexuais que são sugeridas por sua interpretação de certos signos visuais. Então, para se mostrarem machos, Bruce e Dick deveriam ter feito o seguinte:

  • Não mostrar preocupação quando feridos.
  • Morar numa cabana
  • Flores horrorosas em pequenos vasos.
  • Não ter mordomo.
  • Nunca dividirem um sofá.
  • Usar paletó.
  • Manterem suas camisas abotoadas e jamais usarem roupão.

Mas para o Wertham, os desvios sexuais não eram exclusividade do Morcego. Nem a Mulher-Maravilha escapou dos devaneios do autor:

“A conotação homossexual das histórias da Mulher-Maravilha é psicologicamente irrefutável. Para os meninos, a imagem da Mulher-Maravilha é assustadora. Para as meninas, é um ideal mórbido. Se Batman é antifeminino, a atraente Mulher-Maravilha e suas contrapartes são definitivamente antimasculinas. A Mulher-Maravilha tem suas próprias seguidoras femininas. Suas seguidoras são as meninas que gostam de festejar, as lésbicas. “

O congresso então lança uma investigação com o foco na indústria de quadrinhos. Embora o relatório final apresentado não culpava os quadrinhos pelos crimes, recomendava aos empresários do setor que mudassem o conteúdo voluntariamente. Seja como for, essa ameaça velada fez com que os editores aprovassem o Comics Code Authority ou Código dos quadrinhos. Elaborado pelos próprios editores para que pudessem a regular o conteúdo do setor e se autocensurarem:

E esse foi o principal fator responsável pela banalização deste mercado. Por um bom tempo, os quadrinhos sofreram preconceito. Além disso, as HQs foram consideradas literatura inferior. Ao passo que a profissão de quadrinista era uma vergonha.

Na década de 60, Will Eisner cria o movimento artístico “Graphiic Novel” ou Romance gráfico. Osama Tesuka quase que simultaneamente,  cria o Gekigá. Onde afirma que quadrinho não é nem literatura e nem artes plásticas ou ilustração. Mas um novo tipo de arte, com suas próprias regras e limitações. Com histórias adultas e complexas, com aprofundamento em temas sócio-culturais, psicológicos, políticos e etc.

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Um comentário
  1. Quiof Thrul

    Fredric Wertham manipulou os dados do livro, embora ele não fosse o primeiro, nem o último a falar dos possíveis malefícios dos quadrinhos, ironicamente, na década de 70, lançou um livro sobre os fanzines e tinha um tom bem diferente, segue uns links
    http://www.universohq.com/noticias/fredric-wertham-manipulou-dados-do-livro-seducao-do-inocente/
    Os leitores de histórias em quadrinhos no meio das mentiras de Fredric Wertham pela mesma autora que fez a pesquisa e descobriu as fraudes

    http://www.revistas.usp.br/nonaarte/article/view/167522

    http://www.lostsoti.org/bibliography.htm

    Resenha do livro World of Fanzine pelo falecido fanzineiro português Geraldes Lino
    http://sitiodosfanzines.blogspot.com/2017/01/livros-sobre-fanzines-os-meus-iii.html

    Fiz um sobre a perseguição aqui
    https://quadripop.blogspot.com/2019/10/perseguicao-e-censura-nos-quadrinhos.html

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